14/02/2017 13:04:32
Nos últimos meses, a notícia que mais chocou os representantes dos trabalhadores do ramo financeiro foram os casos de suicídio em bancos. Em um dos casos o bancário, além de se matar, matou uma colega de trabalho e feriu outra. Tragédias como estas vem fazendo parte do dia a dia da categoria bancária. Os números sobre o adoecimento mental nos bancos continuam assustadores.
A situação, que já era grave, ficou ainda pior com a reestruturação em bancos públicos e com as demissões em massa nos bancos privados. Mesmo com lucros nas alturas, bancos seguem com a onda de demissões.
Transtornos psiquiátricos
Os transtornos psiquiátricos já superaram as doenças osteomusculares que por muitos anos foram campeãs de incidência entre os trabalhadores bancários.
De acordo com o quadro geral das ações realizadas nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRST) do município de São Paulo, somente de junho a novembro de 2015, dos 102 atendimentos a bancários realizados nos centros, 54% apresentavam transtornos metais. Em seguida estão problemas como LER e Dort (Lesões por Esforços Repetitivos e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho) com 30,39% dos atendimentos.
Segundo o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, diante da perda de vidas que ocorrem no local de trabalho do ramo financeiro, é de extrema importância o debate sobre a relação entre trabalho e saúde do trabalhador, principalmente saúde mental. “A nossa luta no combate ao adoecimento é diária. Os bancos nem negam mais que o trabalho bancário adoece. Ainda querem atribuir as pressões aos gestores, mas estes também adoecem e são afastados. A recente intensificação das demissões nos bancos privados e as reestruturações nos bancos públicos aumentou a angústia dos trabalhadores e o número de casos extremos também aumentou. Os bancos sabem disso”, disse Roberto.
Depressão
Outro dado alarmante de saúde mental é de que no ano passado, 75,3 mil trabalhadores foram afastados em razão de depressão, com direito a recebimento de auxílio-doença em casos episódicos ou recorrentes. Eles representaram 37,8% de todas as licenças em 2016 motivadas por transtornos mentais e comportamentais, que incluem não só a depressão, como estresse, ansiedade, transtornos bipolares, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína.
Os especialistas destacam que há risco de subnotificação, diante da dificuldade em comprovar o papel do ambiente de trabalho na ocorrência de episódios depressivos. Mesmo assim, há profissões que são conhecidas por terem mais afastamentos e aposentadorias ligadas a transtornos dessa natureza, como é o caso do mercado financeiro.
De acordo com o secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Walcir Previtale é importante ressaltar que as condições de trabalho dos bancários, entre elas pressões diárias, assédio moral, metas e avaliação individual de desempenho, são fatores que contribuem para o desgaste mental dos bancários, levando ao adoecimento mental. “A intensificação do trabalho, extrapolação de jornada, controle excessivo, também contribuem para o adoecimento”.
Para Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, os próprios bancos reconhecem a grande quantidade de adoecimentos, pelas pesquisas internas apresentadas. “A relação de pressão no universo do trabalho bancário agrava os casos de adoecimento mental. Temos históricos de trabalhadores que tiveram um quadro de agravamento em relação a sua saúde mental após uma situação de descomissionamento. Ou seja, a relação do trabalho agrava a saúde do trabalhador ao longo do tempo”, destacou Wagner.
Na década de 90, ocorreram vários casos de suicídio no Banco do Brasil, inclusive, na época, houve uma circular de alerta para os gestores que ficassem atentos à saúde mental dos funcionários, porque havia a possibilidade de outros funcionários cometerem suicídio.
Infelizmente, esta triste realidade volta à tona ao cotidiano da categoria bancária.
Fonte: Contraf-CUT