Artigo: Um país injusto e nada fraterno

09/11/2016 12:13:04

O Brasil é um país definitivamente injusto. Certas coisas só acontecem por aqui, e não por acaso, pois o Brasil é também um país nada fraterno. Fiquemos com alguns exemplos dos últimos dias. Terminadas as eleições para prefeitos no país, a primeira verdade que salta aos olhos é o perfil da maioria dos eleitos no Brasil. Pode se afirmar, categoricamente, que os eleitores deram um voto para o atraso, para o conservadorismo, para o discurso do ódio, para o fascismo. Porém isto não foi construído por geração espontânea.

 

Não seria diferente depois de uma massacre midiático a toda e qualquer tentativa de mudança proporcionada por governos de viés social que se iniciaram em 2003, e se encerraram agora em 2015, através de um golpe jurídico parlamentar. Com os ataques baseados em um discurso falso moralista de criminalização de qualquer iniciativa de avanço social, políticas públicas características de partidos progressistas , seria natural que o eleitorado do país pendesse para esse espectro político vitorioso nas urnas agora. Vencedores que, certamente, trairão o voto recebido, visto que tem um compromisso contra a maioria dos que os elegeram.

 

Natural também porque, infelizmente, em que pese a universalização de acesso à educação básica e a expansão importante de acesso ao ensino superior, ainda formamos inúmeros analfabetos funcionais, pois toda a expansão de acesso não foi acompanhada de uma expansão de qualidade. Só para exemplificar, as faculdade do Brasil conseguem graduar em torno de 38% de analfabetos funcionais. E, o que mais concorre para este quadro de involução política brasileira é o fato primeiro de que, o analfabeto funcional, via de regra, afirma categoricamente, mesmo sem saber o que está dizendo, que odeia política,e, desta forma, coloca-se a mercê do que há de mais abjeto na política: a ação danosa de quem constrói esta política nefasta.

 

A estranheza, a falta de fraternidade e a injustiça deste país residem em situações que poderiam até ser pitorescas não fossem a trajédia que simbolizam. Seria absolutamente impensável que em um país que levasse a sério a democracia, o presidente da mais alta corte eleitoral visitasse um réu em uma ação que será por ele julgada. A visita do presidente do TSE Gilmar Mendes ao presidente ilegítimo Michel Temer, significa um escárnio institucional ao país, algo que eles tratam como banal, obviamente contando com o beneplácito da mídia dominante da elite, que pastoreia a sociedade de forma que esta também considere normal esta aberração.

 

Agora, para agravar ainda mais o quadro de estranhezas deste país injusto, assistimos à ação de um movimento, que mais se assemelha a uma gangue fascista, o MBL, que diz ser “livre”, mas se alinha, na política, ao que de mais retrógrado e simbólico do desejo da elite deste país, o DEM, aterrorizar aquilo que pode ser uma lufada de frescor na combalida e decrepta política brasileira: os muito jovens indignados com a tentativa de roubo de seu futuro, tentada por este governo ilegítimo, via PEC 241 e a MP do Ensino Médio.

 

O Brasil, que aspira a ser um grande país, lutando inclusive para ser um dos grandes com assento no conselho de segurança da ONU, com este tipo de comportamento, que persiste em negar seu passado escravagista, que continua a ser uma nação homofóbica e sexista, fundamentalmente em função de sua injusta elite, não tem como almejar evoluções alvissareiras. Somos, infelizmente ainda, um país que não teve a capacidade de fazer o dever mínimo de casa: tentar ser uma nação mais igual, mais plural, mais justa e mais fraterna. Especialmente para os jovens, e as crianças.

 

Antonio Eustáquio Ribeiro
Conselheiro Fiscal do Sindicato dos Bancários de Brasília