02/12/2019 12:38:00
O professor Ramatis Jacino, abordou o Resgate do Trabalho Escravo, desde o sequestro dos irmãos negros na África até o fim do século XIX. Ele falou sobre a importância do Continente Africano no processo de construção da civilização. O professor tratou o sequestro dos africanos pelos europeus foi motivado pelo amplo conhecimento científico e tecnológico que as nações africanas possuíam nas mais diversas áreas como na agricultura, na matemática avançada, na física, na movimentação dos ventos, na astronomia, no desenvolvimento da tecnologia do ferro, na mineração, na fundição e na joalheria, na farmacologia e na saúde física e mental.
“A escravidão é um momento importante e trágico na história da humanidade e na história dos negros em particular. Mas nossa história não se resume à escravidão. A contribuição que o povo africano deu para a civilização, para a economia, para o desenvolvimento científico e tecnológico é muito grande”, explicou.
Ramatis lembrou que tais contribuições foram apropriadas pelos europeus e pelos americanos, e transformadas em riquezas extraordinárias – utilizadas, posteriormente, como instrumento de manutenção do saque ao povo. “O Continente Africano foi saqueado nas suas riquezas minerais, teve as suas nações invadidas, e foi roubado naquilo que é mais importante para qualquer Nação: o seu povo. As pessoas foram sequestradas e trazidas para o Brasil”.
Ele reforçou ainda como os africanos, ao longo de todo o período de escravidão, foram passando de geração em geração seu conhecimento – o que garantiu a sobrevivência dos ex-escravizados. “Esse legado garantiu a sobrevivência do povo e impediu o desaparecimento da população negra que, aliás, era o projeto das classes dominantes”, concluiu.
Censo da Diversidade
Fotos: Alessandro Carvalho
A economista e técnica do Dieese, Vivian Machado, realizou a “Análise dos dados do Censo da Diversidade-Fenaban 2014 e as perspectivas do Censo de 2019”. Ela apresentou os dados de distribuição da população negra e branca em 2010 e os principais resultados do Censo da Febraban (2008 e 2014). “Esses dados mostram como é grande a diferença salarial entre negros e brancos e, principalmente, entre as mulheres negras e os homens brancos – muito maior e preocupante em todas as regiões”.
Vivian explicou que a perspectiva é de que o Censo de 2019, além de um levantamento estatístico da atual composição da categoria bancária, traga também formação e possibilite a ampliação da luta contra a discriminação e do preconceito que existe dentro do sistema financeiro. “Quando apresentamos a realidade dos dados, constatamos que, no dia a dia, as pessoas ainda não estão conscientizadas da gravidade da situação e possam ter ações afirmativas e positivas no sentido de trazer os bancários para a luta contra a discriminação”.
Mercado de Trabalho
Fotos: Alessandro Carvalho
O professor da Universidade de Brasília (UNB) Mário Theodoro abordou a “As políticas públicas e as desigualdades raciais no mercado de trabalho”. O docente explicou que mercado de trabalho que, muitas vezes, é visto como o local onde as pessoas vão para sobreviver e se desenvolver no caso de sociedades desiguais, gera mais desigualdades – na medida em que ele potencializa para os que têm mais privilégios e tira as condições quem tem menos.
“A história de como o mercado de trabalho no Brasil se tornou desigual tem a ver com um cenário de desigualdade que não era ainda um mercado de trabalho, mas sim de escravismo. Mas que quando passa a ser trabalho livre é caracterizado por duas políticas; a lei de terras que retira a posse das terras dos negros que trabalhavam nelas e a política de migração que faz com que uma grande população europeia venha para o Brasil e tome o lugar dos negros em algumas áreas centrais”.
“O que acontece é que há uma dupla exclusão seja no mercado de trabalho, seja no mercado das terras que faz com que nós tenhamos hoje uma horda de pessoas sem emprego e sem terras que continua sendo o grande problema do Brasil. E essas pessoas na sua maioria têm cor. Por trás de todo esse problema está a questão do racismo que faz com que as portas para a população negra sejam fechadas”. Mário completa afirmando que uma sociedade melhor é uma sociedade sem privilégios. “Para ter uma sociedade mais igual é necessário mexer com os privilégios”.