Nota: Página infeliz da nossa história

01/09/2016 13:41:52

A conquista da democracia no Brasil não foi um caminho suave, mas foi com certeza, gratificante. E nesta manhã de 31 de agosto de 2016, assistimos a sua falência. Em uma página infeliz da nossa história, os poderosos mataram mais uma rosa, a democracia.

 

Ela foi plantada na década de 80 e nasceu com o grito: Diretas já! Passou por caminhos tortuosos, períodos frágeis, mas persistiu. A democracia se consolidou com a eleição de um operário à presidência da República. Inimaginável, num país de governo de elites para as elites. Luiz Inácio Lula da Silva é eleito e depois ainda elege sua sucessora, uma mulher, Dilma Rousseff, que lutou bravamente contra setores fascistas e retrógrados da direita, contra uma oposição que fomentou um discurso de ódio e de intolerância. Mas, numa triste manhã de quarta-feira, 31 de agosto de 2016, o plenário do Senado golpeia a presidenta Dilma, de maneira caluniosa e sórdida. 

 

Mesmo depois de não ter sido provado nenhum crime de responsabilidade, a presidenta Dilma foi definitivamente afastada pelo Senado Federal, por 61 votos a 20. Foram 61 contra 54 milhões de brasileiros e brasileiras, que a elegeram de forma legítima.

 

Mesmo tendo que enfrentar os piores inimigos, 54 milhões de brasileiros e brasileiras hão de resistir bravamente a este golpe inescrupuloso e mesquinho. Iniciarão uma nova jornada. Uma nova luta contra as conspirações do Congresso Nacional, protegidos pelas inúmeras faces do judiciário, dos poderosos da mídia, latifundiários, executivos das multinacionais, banqueiros e oportunistas. Além da dura luta contra a hipocrisia, o ódio, a homofobia, a discriminação, a exclusão, o preconceito, o racismo, a violência, a intolerância, a xenofobia.

 

A história não perdoará. Mulheres, homens, jovens, idosos, trabalhadores e trabalhadoras irão escrever bravamente novas páginas com coragem, força, garra e fé. Lutarão até a exaustão. Pois, só a luta os garantirá.

 

Segundo a presidenta Dilma em suas palavras após o golpe. “A descrença e a mágoa são péssimas conselheiras. Não desistam da luta. Eles pensam que venceram, mas estão enganados. Sei que vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme oposição que um governo golpista pode sofrer”, disse. "É uma fraude contra a qual vamos recorrer em todas as instâncias", avisou.

 

Em suas sábias palavras, Dilma reafirmou que seu vice, Michel Temer, agora chefe do Executivo, não ascendeu ao poder pelo voto direto, e que as forças que agora comandam o país apropriaram-se do poder por meio de um golpe de estado, uma inequívoca eleição indireta, onde 61 senadores substituíram a vontade de 54 milhões de votos.

 

Um capítulo lamentável da nossa história.

 

A presidenta que vivenciou dois duros golpes, relembrou que o primeiro, baseado na truculência das armas, levou o país à ditadura civil militar (1964-1985) e este segundo foi decretado por meio de uma farsa jurídica que a derrubou da presidência.

 

Sonhos, esperanças e grandes avanços são interrompidos por uma poderosa força reacionária.

Dilma é incisiva: “O golpe é misógino, homofóbico e machista. Eles estão impondo a cultura da intolerância, do preconceito e da violência. Falo isso aos brasileiros que durante meu governo superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da nação... As futuras gerações saberão que a primeira vez que uma mulher assumiu a presidência, o machismo mostrou suas veias. Mas nada nos fará recuar. Não direi adeus, e sim até daqui a pouco. Eu, a partir de agora, lutarei incansavelmente para continuar a construir um país melhor”, afirmou bravamente.

Milhões de brasileiros e brasileiras compartilharam por mais de 13 anos um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história do país.

As ruas do Brasil serão tomadas com as bandeiras da resistência, da inclusão, da igualdade de oportunidades, dos direitos trabalhistas, da cidadania, da luta por empregos, da moradia digna e de um Brasil para todos e todas.

 

A luta continua!

 

Só a luta nos garante!

 

Fonte: Contraf-CUT