14/02/2017 12:59:22
Uma ideia está consolidada nos sindicatos de bancários: o golpe de 2016 não foi uma simples reação desesperada de partidos que vinham perdendo sucessivas eleições e vendo reduzir o seu espaço na cena política brasileira. O golpe foi meticulosamente pensado e articulou necessidades da elite capitalista financeira, industrial e agrícola, o empresariado nacional atrasado, que ansiava maximizar seus lucros baixando o preço do trabalho que contratava. De quebra planejaram ainda lucrar mais rebaixando e anulando as poucas conquistas sociais e trabalhistas dos últimos anos. Estavam cansados de bajular os governos progressistas para ter concessões e queriam de volta o poder total. Construíram um plano. Em conluio com associações empresariais, financiaram a campanha de centenas de deputados e senadores, a maioria deles profundamente envolvidos em casos de corrupção. Elegeram uma maioria parlamentar comprada, nunca antes vista no cenário político nacional. Uma bancada com volume suficiente para votar emendas constitucionais, num ambiente perfeito para atacar os direitos dos trabalhadores e com suficiente falta de pudores para destituir a presidenta Dilma.
A partir disso, qualquer motivo serviria. Tudo o que encontraram objetivamente contra a presidenta foram as “pedaladas fiscais”, ainda que a sociedade brasileira pouco soubesse o que significava isso. Na verdade, estas manobras fiscais eram irregularidades menores e corriqueiras em todos os governos anteriores. Sob a batuta de presidentes de Câmara e Senado golpistas, as pedaladas se transformaram em um crime suficiente para afastar uma presidenta legitimamente eleita pelo povo. E o golpe aconteceu sob o olhar constrangido e complacente do Supremo Tribunal Federal.
A elite capitalista está no poder. Não quer mais apenas influir nos governos. Quer governar direto com seus homens de confiança.
A narrativa de que havia uma corrupção a ser combatida no Estado praticada por partidos que estavam no poder foi milimetricamente construída pelos meios de comunicação do Partido da Imprensa Golpista. Esta mídia, ideologicamente comprometida com a direita brasileira, estava ávida por abocanhar maiores verbas publicitárias de governo e mamar nas contas das empresas estatais. Uma parte ingênua do povo foi manipulada por eles. A mídia golpista vitaminou manifestações populares de jovens que pediam mais governo e as transformou em manifestações difusas contra o governo. Uma massa impressionante da classe média insatisfeita com o arranjo da crescente ascensão das classes mais vulneráveis foi às ruas protestar contra a redução dos seus privilégios, vestida de verde e amarelo. Queriam furiosamente o seu País de volta e tiveram.
No meio desta massa, cães raivosos fascistas e vinculados a sentimentos religiosos fundamentalistas mostraram as suas faixas pedindo o retorno do Estado forte e repressor. Ditatorial. Conseguiram...
Depois de efetivado o golpe, o pagamento da fatura foi cobrado pelos patrocinadores e as reformas estruturais entraram rapidamente na pauta do Congresso, dentre elas a reforma da Previdência Social. O empresariado já tinha dito no seu pato de borracha amarelo: “não vamos pagar a conta!”. E a conta está sendo apresentada para o trabalhador brasileiro.
A resistência dos bancários
O anúncio de reforma da Previdência Social repercutiu muito fundo no meio dos trabalhadores do sistema financeiro. Este segmento sempre valorizou muito a luta por segurança e tranquilidade na velhice. Esta luta sempre fez parte da nossa história, desde os economiários, antiga denominação dos empregados da Caixa Econômica Federal, que iniciaram sua luta por seguridade e pagamento de pensões em 1890, passando pela defesa de seus fundos de pensão, que também seguem ameaçados na atual conjuntura, com tentativas de diminuir a participação e poder de decisão dos trabalhadores.
Os bancários são uma categoria que vem tendo seu tamanho reduzido pelas transformações organizacionais e tecnológicas que os bancos estão realizando. Nesta conjuntura, o tempo de permanência no emprego vem baixando sensivelmente, resultando numa categoria cada vez mais jovem e sem perspectivas de aposentadoria num único emprego no sistema financeiro.
Nesta perspectiva a nossa Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – Contraf CUT - tem somado esforços com a Central Única dos Trabalhadores na tarefa de denunciar à população todas as medidas de desmonte da Previdência Social e organizar os trabalhadores para derrotar a retirada de direitos. O governo golpista, com o apoio da mídia manipuladora e tendenciosa, vêm se utilizando da propaganda para fazer uma verdadeira lavagem cerebral, tentando convencer a população da necessidade das reformas, usando como argumento a mentira deslavada do déficit da previdência e a inevitabilidade de falência do sistema, caso a mesma não seja aprovada.
A Confederação dos Bancários acredita ser preciso articular os sindicatos, as classes populares, os movimentos sociais, os partidos de esquerda e a juventude para barrar esta e outras reformas nocivas aos trabalhadores.
Temos liderado ações de resistência, mobilizando as bases de nossos sindicatos e federações em conjunto com os sindicatos da CUT, os movimentos sociais parceiros e setores democráticos da sociedade, contra as reformas e retiradas de direitos promovidos pelo governo ilegítimo de Temer.
Ação concreta é nossa Campanha Nacional contra a Reforma da Previdência Social, com produção de vídeo, veiculado no site da Confederação e nas redes sociais. Material gráfico de apoio no site, que dialoga com a categoria bancária e a população, para ser reproduzido pelos nossos sindicatos filiados e estimulo à criação de comitês antirreforma da Previdência Social nos sindicatos para levar esta discussão ao local de trabalho, aos bairros e comunidades onde moram os trabalhadores/as, mobilizando-os para a luta.
Outra ação que a Contraf-CUT começou a trabalhar junto com seus sindicatos é a elaboração da Campanha Nacional em Defesa dos Bancos Públicos, que também contará com a produção de vídeo de propaganda contra o sucateamento dos bancos públicos, material gráfico e digital e a criação de comitês em defesa dos bancos públicos nas entidades sindicais filiadas à Confederação.
Nos preparamos para o nosso Congresso Extraordinário em março, com a construção um plano de lutas de resistência, fundamental neste momento de caos, instabilidade política, social, econômica e de ataques à classe trabalhadora.
Definir ações para articular a juventude bancária, o combate ao racismo, a mulher trabalhadora, para proteger a saúde do trabalhador, para articular a comunicação, a formação sindical, o jurídico da Confederação, a política sindical, a política social, as finanças, as informações socioeconômicas, as relações de trabalho, a organização do ramo e as relações internacionais da Contraf-CUT.
Construir um plano de lutas estratégicas capaz de colocar todo o esforço dos sindicatos na defesa dos pressupostos históricos de nosso projeto de sindicalismo que se construiu em defesa dos interesses históricos e imediatos da classe trabalhadora.
Contra a Reforma da Previdência!
Em defesa dos Bancos Públicos!
Roberto Antonio von der Osten, Presidente Contraf-CUT
Fonte: Contraf-CUT