O VÔO DAS BORBOLETAS

01/11/2013 12:23:49

 Da coluna de Renato Lauermann:

 

Greve causa desconforto e sofrimentos, mas é um legítimo instrumento reivindicatório em uma democracia.

 

Mesmo assim, os grevistas são mal vistos pela sociedade. Tudo que altere a rotina não é bem assimilado e nada muda mais o rotineiro de que uma greve prolongada.

 

É importante lembrar que em uma ditadura, o primeiro direito a ser confiscado é o de fazer greve.

 

Greves permitem observar o que há de melhor e de pior nos seres humanos (animais não fazem greve, ela é inerente aos que raciocinam).

 

O melhor é a solidariedade, a união, a organização e a capacidade de superar possíveis resultados inesperáveis.

 

O pior é o egoísmo e o oportunismo que se manifesta nos que 'furam' a greve, mas querem se

beneficiar dos resultados positivos, quando alcançados.

 

Tenho certeza de que o grevista é a maior vítima de uma greve. Além do estresse pela incerteza dos resultados, há a possibilidade de desconto dos dias parados (que muitas vezes anula os benefícios alcançados) e a certeza de trabalho em dobro ao término dela. Um grevista é sempre a primeira opção em se tratando de redução do quadro funcional. Aos fura greves, os benefícios são tentadores: não precisam recuperar dias parados, não há risco de demissão e, caso o movimento seja vitorioso, os ganhos serão estendidos a eles.

 

Por isso, eu aponto um único lado negativo nas greves: por beneficiar indistintamente aos que corajosamente evoluem para borboletas e aos que covardemente, aceitam a condição de lagarta.

 

A lei deveria mudar, garantindo que as conquistas dos grevistas fossem apenas deles.

 

Os demais receberiam apenas o que os patrões oferecem e que de bom grado eles aceitam, pois se assim não fosse, eles também se rebelariam.

 

É assim nas greves de professores, bancários, policiais ou qualquer categoria profissional em que uma parcela deles não sabe a diferença entre existir e viver.

 

Exalto a coragem dos que arriscam. Deploro a vileza dos que fazem da acomodação uma maneira de auferir lucros indevidos.

 

Aos que ganham asas, a certeza de que vistas do alto, as lagartas são ainda menores do que parecem.