19/11/2015 17:49:11
Pediram que eu falasse os desafios de ser uma mulher negra numa sociedade machista e preconceituosa como a nossa. Simples, é mais ou menos como falar de minha própria vida.
Mas de imediato me veio à lembrança o dia em que mostrei para meus catequizandos, a minha biografia que saiu na revista Personalidades, uma revista comemorativa do Jornal Cidade, do qual agora sou colunista.
Meus pequeninos ficaram indignados com o fato de estar escrito que eu sou negra, e retrucavam em sua doce inocência que:
- A senhora não é negra tia, a senhora é morena!
Num sorriso eu apenas disse:
- A tia é negra sim! E isso não é uma ofensa.
Nossas crianças apenas reproduzem, aquilo que todos os dias presenciam, em casa, na escola, na televisão e na internet. Onde o padrão de beleza, bondade e poder estão diretamente ligados ao ser branco. E o negro remete ao pensamento de horror, trevas e desastres.
A verdade é que começamos a combater o preconceito quando abandonamos de vez os grilhões da escravidão e submissão de paradigmas e conceitos ultrapassados de que ser preto é ser menos.
Lembro que quando tomei posse no Banco do Brasil, uma amiga de minha mãe me perguntou se eu iria trabalhar como faxineira, eu não me ofendi com a pergunta. Apenas respondi que teria também muito orgulho se essa fosse minha função no banco, mas que eu havia passado no concurso e trabalharia no atendimento ao público. Ela ainda brincou:
- Mas vai ser só você de preta lá!
“Minha Preta”, esse era também o apelido carinhoso, que minha primeira chefe no banco me deu. Um jeito carinhoso, de uma pessoa que acreditava que me chamar pela minha cor não era ofensa e sim um modo de mostrar seu carinho. Minha cor não me ofende! Eu sou preta... Fato!
Somos um povo forte e por isso resistimos a tanta coisa. Principalmente nós mulheres negras, que somos duplamente discriminadas, por sermos mulheres e por sermos negras.
Eu já fui chamada de Chipam, por um ex namorado. Apelido “carinhoso” que na verdade queria no decurso diário justificar, a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e do sexíssimo.
“No Brasil vivem 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população. Vive face mais perversa do racismo e do sexíssimo. Sem falar na violência simbólica cotidiana, alimentada por uma mídia racista que invisibiliza e banaliza a participação na sociedade de mulheres negras.”
Somos as maiores vítimas da violência doméstica, cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. Temos três vezes mais chance de sermos estupradas do que mulheres brancas.
Nossas batalhas solitárias por justiça num quadro de extrema violência racial, denunciamos a violência doméstica, os maus tratos e homicídios de mulheres negras.
Lutamos pelo fim do racismo e da intolerância que promovem a exterminação da população negra no Brasil.
Synara Aparecida Nicolau
Diretora do Sindicato e Funcionária do BB