Metas abusivas geram assédio moral e adoecem cada vez mais bancários

15/04/2013 13:39:50

A transformação das agências bancárias em balcões de vendas, impulsionadas por altas tecnologias e venda de produtos, tem reduzido significativamente o número de funcionários e cada vez mais acentuado as metas, na maioria das vezes abusivas.

 

 

O novo conceito de agência tem sido projetado, como afirmam os próprios executivos dos bancos, como "vitrines de produtos financeiros", e o bancário como promotor de vendas.

 

Com este novo modelo, os bancários são forçados a cumprir metas insanas e inalcançáveis, o que tem ocasionado problemas de saúde, como LER/Dort e sofrimento mental.

 

 

Política de gestão

 

O combate ao assédio moral e o fim das metas abusivas têm sido as principais bandeiras relacionadas ao tema de saúde do trabalhador nas campanhas nacionais dos bancários nos últimos anos.

 

O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Walcir Previtale, critica a postura a Fenaban que se recusa a negociar a imposição de metas abusivas aos trabalhadores, seja na mesa temática de saúde do trabalhador, seja na campanha nacional.

 

Segundo o dirigente sindical, os banqueiros afirmam que as metas são estratégias privadas de cada banco e que a gestão é exclusiva de cada organização, cabendo apenas aos trabalhadores o respeito às decisões tomadas pelas instituições financeiras e cumprimento das metas impostas.

 

"A estratégia dos bancos é sempre a de individualizar todo o processo de trabalho que envolve as metas de produção. Impostas de maneira abusiva, de cima para baixo, elas devem ser alcançadas a qualquer custo e para eles compete a cada trabalhador buscar os meios, individualmente, para atingi-las", destaca Walcir.

 

Na prática, a forma como a política de metas é organizada coloca o trabalhador em xeque. Segundo o diretor da Contraf-CUT, aquele que não consegue alcançar as metas impostas pelos bancos dificilmente conseguirá permanecer no emprego por muito tempo.

 

Violência organizacional

 

Conforme a pesquisadora e médica do trabalho, Margarida Barreto, as políticas de metas são pensadas e analisadas pelos superiores de forma autoritária, unilateral e inatingível. Trata-se de um modelo de gestão baseado na 'excelência' que tem uma única mensagem: 'vender, vender, vender'.

 

"O trabalhador tem a obrigação de ser forte, produzir melhor que o concorrente, atender todas as demandas e canalizar as energias individualmente", destaca Margarida.

 

Na avaliação da pesquisadora, as metas são um desafio no que diz respeito a todos os trabalhadores e não somente aqueles que têm o problema manifestado. "O assédio moral faz parte da organização coletiva. Não podemos cair na indiferença com quem está ao nosso lado. Quando isso acontece, se banaliza e se caminha para a barbárie. A violência organizacional é um problema que diz respeito a todos nós", ressalta.

 

Para o psicólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Heloani, o que deve ser revisto é o modo como as empresas fazem a política de metas, sem consultar os trabalhadores. "Como é possível estabelecer metas sem contar com a opinião daquele que a pratica?", questiona.

 

Saúde dos bancários

 

Segundo as estatísticas da Previdência Social, a categoria bancária lidera o ranking das doenças de origem musculoesqueléticas (LER/Dort) desde o reconhecimento da "tenossinovite do digitador" e outras lesões por esforços repetitivos como doença do trabalho, por intermédio da Portaria do Ministério da Previdência e Assistência Social nº 4.062, de 6 de agosto de 1987. Os bancários também estão entre os trabalhadores que mais são acometidos com as doenças relacionadas ao sofrimento mental.

 

"Os bancos, de forma deliberada, punem aqueles trabalhadores que não 'batem as suas metas'. O que percebemos, no cotidiano do trabalho bancário, são práticas de assédio moral, associadas às cobranças de metas, que levam o trabalhador ao adoecimento e afastamento. Muitos desses empregados são demitidos em curto espaço de tempo", denuncia Walcir.

 

Por este motivo, a Contraf-CUT, federações e sindicatos defendem e lutam pela democratização das relações de trabalho nos bancos. Para o dirigente sindical, "a imposição das metas, sem discussão com os trabalhadores, sem levar em conta as reais condições de trabalho para a execução das tarefas, é algo que precisa ser, de forma coletiva e organizada, combatida todos os dias".

 

"Atualmente podemos classificar a imposição de metas e os mecanismos de cobrança para atingi-las como fatores de risco à saúde de milhares de bancários e bancárias. Todos os dias, sem exceção, esses trabalhadores são avaliados individualmente para saber se atingiram a meta do dia ou não. Fontes de grande sofrimento mental, tais avaliações desgastam, e muito, os bancários e os bancárias, trazendo sofrimento e doenças", conclui Walcir.